Por Diogo Monteiro
Da Folha de Pernambuco
As verdades sobre a inocência dos presos políticos Ricardo Zarattini e Ednaldo Miranda no atentado ao aeroporto do Recife e sobre a morte sob tortura do estudante Odijas Carvalho de Souza, oficializadas na última terça-feira, eram apenas duas de várias versões fornecidas pelo regime militar contestadas por perseguidos e parentes de mortos e desaparecidos do regime militar. Parentes de Fernando Santa Cruz, em petição feita pelo Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), espera que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) reabra o caso 1.844, que investiga o desaparecimento dele e de Eduardo Collier, em 1974, sobre os quais o governo negava conhecimento.
A comissão, ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA), interpelou o governo brasileiro, após receber no mesmo ano uma carta das mães dos dois militantes. O Brasil respondeu já no fim da ditadura, em 1980, que ambos estavam foragidos e que a Lei de Anistia de 1979 impossibilitava a investigação de possíveis responsáveis. Documentações internas e diplomáticas do governo brasileiro, entregues à família de Fernando, em maio, pela Comissão Estadual da Verdade Dom Helder Câmara (CEVDHC) comprovam que ambos foram presos, torturados e mortos em uma operação para encontrar e “neutralizar” o líder de sua organização, Jair Ferreira de Sá.
“O Brasil mentiu à OEA, e isso é extremamente sério. O País deve, inclusive, ser responsabilizado”, diz o relator do caso na Comissão da Verdade, Manoel Moraes. “É importante levar todos os casos possíveis à CIDH, porque a OEA, como fez no caso do Araguaia, chamará o Supremo Tribunal Federal (STF) a se manifestar, o que pode mudar o entendimento da corte sobre a punição aos crimes cometidos pelo Estado na ditadura”, defende o vereador olindense Marcelo Santa Cruz (PT), irmão de Fernando. No livro “Memórias de Uma Guerra Suja”, o ex-delegado do Dops Cláudio Guerra revela que Fernando Santa Cruz e outros nove presos foram mortos na Usina Cambayba, em Campos (RJ).