quinta-feira, 10 de abril de 2014

Especial 50 anos do golpe

Carta Capital

Clandestinos e revolucionários

Como era vida daqueles que militavam contra a ditadura? Quais foram os efeitos daquele período? Por Maria Auxiliadora de Almeida Cunha Arantes
por Maria Auxiliadora de Almeida Cunha Arantes — publicado 10/04/2014 04:52

A clandestinidade política foi a alternativa que muitos militantes de esquerda encontraram para continuar no país, combatendo a ditadura civil militar entre 1964 e 1979. Todas as organizações políticas colocadas na ilegalidade tiveram muitos de seus militantes presos, torturados e assassinados. Muitos foram banidos, muitos se exilaram. Mais de uma centena de brasileiros continua desaparecida. Um contingente significativo permaneceu dentro do Brasil.
Seu objetivo: combater os ditadores, resistir em luta contra os avanços de um governo discricionário e fascista, denunciar as violências cometidas, chegar mais perto do coração da ditadura e feri-la de morte. Tornaram-se clandestinos, nos nomes, nos rostos e em sua documentação pessoal. Deixaram suas escolas, universidades, profissões e ofícios. Deixaram suas casas, seus bens, suas roupas.
Formaram a coluna vertebral de resistência à ditadura. Reuniram-se febrilmente, fizeram planos estratégicos e de ação. Brigaram entre si e abraçaram-se como nunca. Cada despedida talvez fosse a última. O amanhã era absolutamente hipotético. A certeza do futuro terminava a cada pôr-do-sol. Tinham sido alijados das fileiras dos cidadãos brasileiros, cassados como profissionais, jubilados como estudantes, demitidos sem explicação, perseguidos na fábrica e com os contratos de trabalho suspensos ou encerrados. Foram incorporando ao seu jeito, o anonimato. Jovens mulheres precocemente taciturnas, sonhos de vida familiar adiados, sonhos de maternidade interrompidos. Nenhuma certeza de construir com tranquilidade um futuro.
As restrições impostas pelas sucessivas Juntas Militares a partir de abril de 1964 foram diminuindo o espaço de atuação política legal. Partidos políticos dissolvidos, organizações políticas declaradas ilegais, sindicatos, universidades, associações de classe e entidades estudantis fechadas e invadidas. Restou à militância sair do país ou permanecer nele; tinham poucas alternativas se quisessem continuar a ser militantes políticos organizados dentro do país. Neste aspecto, a escolha da clandestinidade era uma questão de sobrevivência, decorrente da condição de perseguido e considerado inimigo pelas forças que assaltaram o poder. A outra alternativa seria sair do país, exilar-se ou desistir da militância. Para alguns havia a hipótese de permanecer na legalidade em seu local de trabalho, no seu sindicato, na cidade ou no campo, desde que pudessem manter preservada a condição de militante não localizado pela repressão.

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