domingo, 12 de outubro de 2014

FÉ E POLÍTICA


Marcelo Santa Cruz*

Não é hora de desencanto, descrença, pois um resultado eleitoral não deve abalar a fé e a crença na ação política como instrumento de mudanças e conquistas. Então nada de julgar que “a desilusão política pode ser maior que a do amor”, mas sim como um passo para fazer política com amor, ética, visando construir um regime de paz, justiça, bem estar e convivência fraterna e solidária.
É claro que o resultado não foi o esperado, contudo a nossa campanha foi vitoriosa por agregar práticas e valores que marcaram nossa luta por um mandato de deputado estadual. Assim não houve, em nenhum momento, qualquer atitude fora dos princípios éticos que fazem parte de nossa ação e história desde o início no movimento estudantil, quando lutamos contra a violência da ditadura, defendemos os direitos humanos e sociais, bandeiras defendidas por muitos integrantes daquela geração.
Alguns dos companheiros e companheiras eram de outros partidos e tendências, também de uma nova geração, que não viveu a ditadura, não sofreu as conseqüências da repressão, mas compreendeu que a nossa legenda, apoiando Armando Monteiro Neto para o Governo do Estado e Dilma Rousseff para a presidência da República, não tinha qualquer ligação com os remanescentes daquele período nefasto da vida brasileira, apoiados e aceitos por Marina Silva e Aécio Neves, cortejados pelo Clube Militar.
Esse fato fica mais evidente agora, quando lideranças militares festejam Aécio Neves e fazem campanha contra Dilma, por defender a Comissão da Memória e da Verdade, que apura as violências do regime militar e quer apontar os responsáveis pelas torturas, mortes, desaparecimentos, crimes contra a humanidade, que ninguém pode  esquecer, fazer de conta que não aconteceu. No nosso caso, por exemplo, até hoje nossa família nada sabe sobre Fernando Santa Cruz, preso e torturado, tido como “desaparecido”, sofrimento que também afeta tantas outras pessoas neste país, que ainda lutam para saber o que realmente aconteceu com seus entes queridos, vítimas da ditadura e que morreram lutando por democracia, justiça e paz.  
A todas e todos, de diferentes classes sociais, ideais e posições, queremos expressar a nossa gratidão por apoiar nossa candidatura para deputado, crer e aceitar  nossas idéias, princípios éticos, nossa disposição de fazer uma reforma política no país, capaz de combater a influência do poder econômico, que em Pernambuco foi ostensivo, com a força da máquina do Estado e das prefeituras controladas pelo partido no Estado.
Evidente que o uso de recursos do setor público, de empresas privadas, foi fator preponderante na derrota de candidatos de valor do nosso partido que pleiteavam mandatos na Assembléia, na Câmara dos Deputados e no Senado, tais como João Paulo, Fernando Ferro, Dílson Peixoto, Pedro Eugênio e outros, com os quais fizemos parceria por acreditar na lisura de suas ações e posições na vida política do Estado e do país. É uma perda lamentável para o avanço da nossa representação parlamentar, para um legislativo que necessita de quadros para promover reformas e mudanças, ou seja, uma casa do povo atenta às suas reivindicações e com independência para questionar atos do Executivo e do Judiciário.
Não temos dúvida, porém, que essa derrota episódica, reflexo de uma situação atípica em Pernambuco, vai terminar por fortalecer a nossa luta, nossa mobilização por reformas políticas, econômicas e sociais, que tendem a avançar em nosso país. É fundamental, portanto, ter fé na ação política, na democracia e no debate com as forças sociais, apesar da atual mobilização e correlação de grupos apoiada pela mídia e pela campanha ostensiva do sistema financeiro nacional e internacional que investe contra o Brasil, os paises do Merco Sul e os BRICS, um conjunto de nações, uma terceira força. voltada  para construir uma nova ordem internacional independente e humanista.      

*Marcelo Santa Cruz
Militante dos Direitos Humanos
Vereador do PT em Olinda.

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