Juracy Andrade ju.andrade2010@ig.com.br
A Comissão da Verdade pernambucana foi muito bem escolhida e, sob a coordenação do advogado, escritor e ex-deputado Fernando Coelho, tem condições de fazer um bom trabalho de resgate da realidade que os saudosos da ditadura pretendem deixar em eterno esquecimento. Ele entende bem de política e de direito. Sabe das coisas, como se diz. Tem aí algo estranho: por que não querem a verdade divulgada aqueles que se aproveitaram da ditadura, seja para transformar o Brasil no grande quartel de seus sonhos positivistas, seja para enriquecer ilicitamente sob a proteção da censura ou ter uma oportunidade única de dispor de subversivos para exercer instintos bestiais de opressão, tortura, eliminação clandestina? Se essas execráveis figuras acreditavam estar fazendo bem ao nosso País, por que não querem divulgar seus feitos e assumir suas atitudes e responsabilidades?
A outra Comissão da Verdade, a nacional, não está tendo vida fácil. Começa que conta com alguém que acredita na anistia a quem nem foi acusado de nada em juízo (um contrassenso). É Gilson Dipp, ministro do STJ e ex-perito designado pelo Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos, onde atuou contra os familiares de guerrilheiros do Araguaia desaparecidos até hoje. Além disso, em recente entrevista ao Jornal do Commercio, o jurista José Paulo Cavalcanti Filho, membro daquela comissão, conta como foi decepcionante o encontro da entidade com o ministro da Defesa, Celso Amorim. Depois de afirmar que os arquivos militares estariam abertos à comissão, o ministro mostrou-se evasivo e sugeriu que procurassem o Itamaraty. O jurista disse que a comissão está atrás dos arquivos militares da repressão, e esses ou foram queimados ou enviados para a Base Aérea junto ao Aeroporto Santos Dumont. Ali houve um providencial incêndio que só vitimou arquivos comprometedores da ditadura. Papéis de interesse militar não foram atingidos. Há notícia de outras queimas de arquivos. Ele está otimista com arquivos dos EUA já requisitados. Lá, queimar arquivo dá cana.
Em Pernambuco, Fernando Coelho lembra que a Comissão não tem poder punitivo, mas nada impede que emita opinião sobre os fatos e recomende punições. A tortura e assassinato do padre Henrique e o desaparecimento de Fernando Santa Cruz são dois casos sobre os quais a Comissão está debruçada. Com 98 anos, dona Elzita, mãe do desaparecido e do vereador olindense Marcelo Santa Cruz, reafirmou, por ocasião da instalação da Comissão, a esperança de ter informações que há décadas espera sobre o filho. Alguns militares reformados, que se julgam guardiães do descalabro da ditadura, estão indóceis e criando comissões paralelas. Contudo, vamos ser otimistas e crer no triunfo da verdade. Um direito e não revanchismo.
PS Na próxima quarta às 19h, no Museu do Estado, Marcelo Mário de Melo lança seu Os colares e as contas Poemas políticos. *** Nos dias 11 e 12 passados, a Academia Pernambucana de Letras realizou um seminário sobre a vida e obra do romancista Gilvan Lemos.
Juracy Andrade é jornalista
A Comissão da Verdade pernambucana foi muito bem escolhida e, sob a coordenação do advogado, escritor e ex-deputado Fernando Coelho, tem condições de fazer um bom trabalho de resgate da realidade que os saudosos da ditadura pretendem deixar em eterno esquecimento. Ele entende bem de política e de direito. Sabe das coisas, como se diz. Tem aí algo estranho: por que não querem a verdade divulgada aqueles que se aproveitaram da ditadura, seja para transformar o Brasil no grande quartel de seus sonhos positivistas, seja para enriquecer ilicitamente sob a proteção da censura ou ter uma oportunidade única de dispor de subversivos para exercer instintos bestiais de opressão, tortura, eliminação clandestina? Se essas execráveis figuras acreditavam estar fazendo bem ao nosso País, por que não querem divulgar seus feitos e assumir suas atitudes e responsabilidades?
A outra Comissão da Verdade, a nacional, não está tendo vida fácil. Começa que conta com alguém que acredita na anistia a quem nem foi acusado de nada em juízo (um contrassenso). É Gilson Dipp, ministro do STJ e ex-perito designado pelo Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos, onde atuou contra os familiares de guerrilheiros do Araguaia desaparecidos até hoje. Além disso, em recente entrevista ao Jornal do Commercio, o jurista José Paulo Cavalcanti Filho, membro daquela comissão, conta como foi decepcionante o encontro da entidade com o ministro da Defesa, Celso Amorim. Depois de afirmar que os arquivos militares estariam abertos à comissão, o ministro mostrou-se evasivo e sugeriu que procurassem o Itamaraty. O jurista disse que a comissão está atrás dos arquivos militares da repressão, e esses ou foram queimados ou enviados para a Base Aérea junto ao Aeroporto Santos Dumont. Ali houve um providencial incêndio que só vitimou arquivos comprometedores da ditadura. Papéis de interesse militar não foram atingidos. Há notícia de outras queimas de arquivos. Ele está otimista com arquivos dos EUA já requisitados. Lá, queimar arquivo dá cana.
Em Pernambuco, Fernando Coelho lembra que a Comissão não tem poder punitivo, mas nada impede que emita opinião sobre os fatos e recomende punições. A tortura e assassinato do padre Henrique e o desaparecimento de Fernando Santa Cruz são dois casos sobre os quais a Comissão está debruçada. Com 98 anos, dona Elzita, mãe do desaparecido e do vereador olindense Marcelo Santa Cruz, reafirmou, por ocasião da instalação da Comissão, a esperança de ter informações que há décadas espera sobre o filho. Alguns militares reformados, que se julgam guardiães do descalabro da ditadura, estão indóceis e criando comissões paralelas. Contudo, vamos ser otimistas e crer no triunfo da verdade. Um direito e não revanchismo.
PS Na próxima quarta às 19h, no Museu do Estado, Marcelo Mário de Melo lança seu Os colares e as contas Poemas políticos. *** Nos dias 11 e 12 passados, a Academia Pernambucana de Letras realizou um seminário sobre a vida e obra do romancista Gilvan Lemos.
Juracy Andrade é jornalista
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