sábado, 2 de junho de 2012

Instalada, Comissão terá dois anos para atuar

FOLHA DE PERNAMBUCO02.06.12


Posse ocorreu ontem no jardim do Palácio das Princesas

02/06/2012 02:08 - JAMILLE COELHO
Allan Torres

COLEGIADO irá apurar os crimes cometidos durante o período da ditadura militar
Os nove membros que compõem a Comissão Estadual da Memória e da Verdade Dom Hélder Câmara tomaram posse ontem em cerimônia realizada no jardim do Palácio do Campo das Princesas. O ato consolida Pernambuco como o primeiro Estado do Nordeste, e o 17º no País, a seguir a orientação da presidente Dilma Rousseff para instalar as comissões da verdade.

Membros da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Federal, deputada Luíza Erundina (PSB-SP), e da Comissão Nacional da Verdade, José Paulo Cavalcanti Filho, se comprometeram a trabalhar em conjunto com os pernambucanos no processo de investigação de crimes referentes ao período da ditadura militar (1964 e 1985) e da ditadura do Estado Novo (1937 e 1946).

O governador Eduardo Campos (PSB) enfatizou que a comissão representa “um largo passo, sem retorno, rumo à democracia das nossas mais profundas esperanças”. “Devemos isso aos nossos filhos, às gerações que virão e a nós mesmos”, disse. Fazendo alusão ao que foi dito pela presidente Dilma, quando lançou a comissão nacional, Eduardo garantiu que a “procura da verdade não é a procura da revanche” nem muito menos “avivar rancores, atiçar ódios, ou acrescentar ressentimentos. “Caberá à Justiça a tarefa de julgar e sentenciar os envolvidos nas denúncias”.

A comissão terá dois anos para apurar, esclarecer e tornar público crimes de sequestro, morte, desaparecimento e tortura do período de chumbo, que aconteceram com pernambucanos no Estado ou fora dele. “Toda sociedade brasileira foi vítima da ditadura militar, e enquanto não se desvendar esses crimes a democracia estará inacabada. A comissão parlamentar também vai investigar o Legislativo e o Estado, que durante a ditadura fez uma Lei da Anistia limitada e restritiva e também cassou dezenas de mandatos populares. Portanto, o Legislativo tem a obrigação de colaborar com a transparência”, disse Erundina.

A deputada aproveitou a ocasião para elogiar a atitude de Eduardo Campos em ser o primeiro governador a instalar o grupo. “A ação servirá de referência para o País inteiro para nos respaldar”. Já José Paulo Cavalcanti Filho afirmou que agora cabe a Pernambuco o papel de escrever seu capítulo. “Teremos que traballhar com a nacional para juntar esforços e investigar o período de chumbo e, assim, dar a chance para que as novas gerações reeescrevam sua história. Somos a 41ª Nação a realizar esse trabalho”, assinalou.

O arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, dis­se estar feliz pela homenagem que a comissão fez a dom Hél­der Câmara, “um ícone na lu­ta contra a ditadura militar”. “Nos­sa esperança é de que mui­tas revelações sejam feitas so­bre o paradeiro dos desapare­cidos para confortar as famílias que até hoje não sabem o que aconteceu. Em alguns dias, encaminharei à comissão um ofício pedindo que se explique o caso do padre Henrique Pereira, cujo corpo foi encontrado com sinais de tortura, em 1969, no bairro do Engenho do Meio”.

Elzita Santa Cruz, mãe de Fernando Santa Cruz, foi a escolhida para representar as famílias dos desaparecidos. “Passados todos esses anos, continuo cobrando: onde está meu filho? Que vi partir para a Guerra do Paraguai e nunca mais voltou. Fiquei esperando todas as noites nas calçadas ele voltar e até hoje não sei notícias”, lamentou. O coordernador da Comissão da Verdade de Pernambuco, o ex-deputado Fernando Coelho, disse que essa é uma responsabilidade que o Estado assume com a sociedade. “Nosso objetivo é revelar a verdadeira história sobre esses crimes e isso servirá de modelo para que aqueles tempos jamais se repitam”.

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